sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Por que a igreja tem rejeitado tanto a cruz?


Jesus disse aos seus discípulos que se alguém quisesse acompanha-lo deveria negar-se a si mesmo e tomar a sua cruz e segui-lo (Mt 16:24). A cruz é um dos componentes de abnegação do cristão, e este componente tem se tornado o seu maior obstáculo para seguir a Cristo, visto que o cristão nominal (clique aqui) não quer negar-se a si mesmo, e muito menos ter que se preparar para uma vida dura, difícil e repletas de lutas infindáveis. Jesus, o filho que o Pai se agradou (Mt 3:17; 17:5), não foi tratado com brandura e não teve concessões compreensivas neste mundo. Toda a vida de Jesus foi uma espécie de cruz contínua.

Deus predestinou seus filhos para esta finalidade: que se façam semelhantes a Jesus Cristo (Rm 8:29). O caminho para vitória, ou para a glória celestial passa por meio de muitas tribulações. Os filhos, são coparticipantes da cruz de Cristo, por isso irão participar das aflições de Cristo, e ao mesmo tempo captar o poder da sua ressurreição (2 Co 13:4). E quando participarem da sua morte, preparar-se-ão para chegar a sua eternidade gloriosa (Fl 3:10-11). Os sofrimentos ajudam a progredir nossa salvação!

Jesus não tinha necessidade nenhuma de levar a cruz e sofrer tribulações, ele fez isso para atestar e comprovar sua obediência a Deus, seu Pai. Todos os seus sofrimentos tinham a ver com a nossa salvação (Hb 5:8-9).

Mas, qual seria a razão deste sofrimento contínuo da cruz para a igreja de Cristo?
Como disse João Calvino: “somos por demais inclinados por natureza a nos exaltar e atribuir tudo a nós mesmos”. Não há melhor maneira para Deus expor nossa arrogância do que nos mostrar experimentalmente como somos fracos e frágeis. Por isso ele nos aflige, quer nos ocasionando afrontas vergonhosas, quer pela pobreza, ou doença, ou perda de parentes, quer por outras calamidades, de tal modo que sucumbimos, visto que não temos forças para resistir. Então, humilhados e humildes, aprendemos a implorar seu poder, a única força que nos habilita a subsistir e a manter-nos firmes sob o peso desses fardos tão pesados (João Calvino).

Temos uma tendência em confiar demais em nós mesmos, e o Senhor nos conduz a um conhecimento correto sobre nossa natureza provando-nos pela cruz. As tribulações que passamos pela cruz, trazem o reconhecimento de nossa hipocrisia. “A tribulação produz perseverança; e a perseverança experiência” (Rm 5:3,4). A cruz elimina a confiança em nossa carne, ela destrói a falsa opinião que naturalmente concebemos sobre a nossa própria virtude e capacidade, ela expõe nossa hipocrisia que nos seduz e nos engana com suas lisonjas (Sl 36:2). A cruz faz com que venhamos a conhecer adequadamente nossa debilidade. O exercício da cruz faz com que tenhamos bom discernimento dela para aprendermos a desconfiar de nós mesmos para que ponhamos nossa confiança em Deus. A cruz prova nossa paciência e nos ensina a obediência a fim de não permanecermos ociosos e fechados em si mesmos. Sem a cruz a igreja não exercita ficando obesa, fechada em si mesma, tornando-se inútil, buscando agradar os desejos do seu coração ao invés de agradar a Deus (Dt 32:15).

Calvino diz que a prosperidade embriaga o homem, por isso é preciso sofrer pacientemente as aflições de Deus, pois o homem é incapaz de sentir seus pecados a menos que seja levado pela força a conhecer-se por si mesmo. A cruz é o remédio da igreja. Essa cura é para todos os membros do corpo, porém não é necessário aplicar o mesmo tipo de cura a todos, ou seja, Deus quer prover saúde a todos, então ele aplica remédios mais suaves em uns, e mais ásperos e rigorosos em outros sem exceção, pois todos estão enfermos.

A cruz também é testemunha do imutável amor de Deus, pois tanto os eleitos quantos os incrédulos estão sujeitos aos castigos temporários que pertencem somente à carne. A diferença entre os dois é que os incrédulos só pioram e endurecem quando recebem os açoites, já os filhos aproveitam os açoites, arrependendo-se e corrigindo-se (Hb 12:5-8).

Sem a cruz vivemos como seres autossuficientes exaltando nossos próprios sacrifícios (1 Sm 15:22; Os 6:6). Sem a cruz vivemos como seres autorreferentes, pois imitamos o primeiro que passar. Vivemos como fariseus, ensinando a boa Palavra, mas sem praticar o que pregamos (Mt 23:1-7). Sem a cruz buscamos louvar e exaltar o homem com o seu valor e sua autoimagem positiva. Sem a cruz trabalhamos pelos resultados para engrandecer nossa força. Sem a cruz vivemos para agradar a nós mesmos. Sem a cruz não aceitamos ser criticados, buscamos nos cercar de bajuladores, para que o ídolo do eu seja engrandecido.

Com a cruz concordamos com o julgamento de Deus ao nosso respeito. Nos vemos como Deus nos vê: pecadores. A cruz nos criticou e nos julgou. Na cruz de Cristo, concordamos com a justificação de Deus para nós. Na cruz de Cristo concordamos com o juízo de Deus em nós como pecadores. Na cruz de Cristo, Deus afirma toda a verdade sobre ele mesmo: sua santidade, bondade, justiça, misericórdia e verdade conforme reveladas e demonstradas em Cristo Jesus. Na cruz, Deus condena a mentira: o pecado, o engano e o coração idólatra. Ele condena minha pecaminosidade bem como os meus pecados específicos (Alfred J. Poirier).

Existe uma canção que diz: “abro mão dos meus sonhos, abro mão dos meus planos, abro mão da minha vida por Ti”, “estou disposto a morrer por Ti...e o sacrifício sou eu”. Isso não é abnegação, isso é uma verdadeira declaração de autossuficiência, de exaltação dos próprios esforços, e um menosprezo total da cruz de Cristo. Você pode dar tudo que tem aos pobres, até entregar seu corpo para ser queimado, mas sem amor (amor não é sentimento, mas decisão, um ato de dar) nada disso terá valor (1 Co 13:3).

A cruz contínua é o meio pelo qual somos aperfeiçoados no poder de Deus em nossas fraquezas para sermos mais parecidos com Jesus Cristo!

REFERENCIAL TEÓRICO

CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã. IV Vol. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 197-205.

POIRIER, Alfred J. A Cruz e a Crítica, 2006. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/cruz/cruz-critica_poirier.pdf>. Acesso em 22 fev. 2018.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

O evangelho não é uma doutrina de língua, mas de vida



Cresce o número de cristãos nominais em nosso país. Mas o que é nominalismo cristão? São pessoas interessadas pelo evangelho, mas sem verdadeira conversão. São pessoas que não tem nada de Cristo exceto o título, entretanto querem ser reconhecidas como cristãs. O Apóstolo Paulo nega que alguém possa receber o correto conhecimento de Cristo, a não ser aquele que aprendeu a despojar-se “do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano”, sendo então revestido do novo homem (Ef 4:20-24).

Como disse João Calvino, o evangelho não é uma doutrina de língua, mas de vida. Não se pode assimilar somente por meio da razão e da memória, mas deve envolver e dominar a alma e penetrar o mais íntimo recesso do coração.

Estamos vivendo a era do hedonismo, onde o que me interessa é o que “me faz sentir bem”. O que a teologia da prosperidade tinha como meta, hoje tem sido substituída pela teologia do coaching na igreja. As pessoas vão a igreja para conquistar aquilo que elas mais desejam. Mas, a essência do verdadeiro evangelho é que devemos buscar não o que nos agrada, mas o que agrada e glorifica a Deus.

“Mostrem um homem que exerce benignidade gratuitamente, se não renunciou a si mesmo” (João Calvino).

Há um mundo de vícios ocultos na alma do homem. E o remédio para estes vícios não está em mensagens motivacionais, mas na renúncia, na negação de nós mesmos, deixando de buscar aquilo que nos agrada, mas impulsionados a buscar as coisas que Deus exige de nós, e a busca-las unicamente porque lhe são agradáveis. O maior exemplo está na pessoa de Jesus. O que mais importava para Jesus é que fosse feita a vontade do Pai. Mas, hoje, dominados pelo desejo de superioridade, se alguma pessoa manifesta dons maiores que o outro na igreja, procuramos obscurecê-lo ou então o desprezamos o mais que podemos. Mas se nesta mesma pessoa manifestam vícios e defeitos, não contentamos fazer-lhe severa observação, aumentando o nosso ódio.

Há muitos que mantêm certa aparência de mansidão e de modéstia, enquanto não são contrariados por coisa alguma. Mas, poucos são os que continuam a mostrar brandura e modéstia quando provocados e irritados.

Que não fiquemos observando e anotando as faltas do próximo, mas que a cubramos (Pv 10:12), visto que temos uma dívida com o próximo, que é o amor (Rm 13:8).

Temos uma doença chamada orgulho, que persiste até mesmo nos santos, ou seja, nos cristãos convertidos. É preciso despir-se de toda autoconfiança e aprender a humildade. “As raízes deste mal são tão profundas no coração humano que ainda o mais perfeito dentre nós jamais se livra inteiramente delas, até que Deus o conforte com a morte” (João Calvino; 2 Co 1:9).

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Quando o temor do Senhor amadurece em você, Cristo torna-se irresistível!


Quando examinamos o histórico do relacionamento com nossos pais, adquirimos informações importantes no que diz respeito a nossa personalidade e o modo como nos comportamos hoje. Mas é preciso ressaltar, que, descobertas com relação aos relacionamentos passados não libertam as pessoas. A libertação vem do crescimento no temor do Senhor e não em descobertas da causa dos problemas. Descobrir a causa de um problema pode até ser importante, pode até trazer um alívio momentâneo, mas não é sinônimo de mudança ou libertação da vida de uma pessoa.

Uma menina que teve um pai barulhento, geralmente feliz, bem-humorado, sempre pronto a rir e fazer piadas, percebe que seu relacionamento com ele nunca teve uma interação em nível mais sério. A filha desejava ter uma conversa mais rica com ele, na qual ele a fitasse nos olhos e procurasse envolver-se com ela, mas isso nunca aconteceu. Ela desejava a atenção significativa do pai, mas ele sempre evitava qualquer interação que envolvesse expressão de sentimentos sérios, pois seu alvo sempre foi trocar o choro pelo riso de modo superficial. Essa falta de relacionamento com o pai, fez com que ela se apegasse a uma ficção (fingimento), para criar meios de evitar a dor, e tê-lo sobre seu controle. Uma maneira de evitar a dor era esconder de vista a pessoa que ela era (seus sentimentos, opiniões, ideias, e etc.) Ela queria mostrar apenas seu exterior, pois seu interior não era digno de atenção. Ela passou a enxergar-se como uma mulher sem substância, ou seja, uma pessoa que não merece ter uma interação séria, como um manequim bem vestido, mas sem vida, enfeitando uma vitrine.

Um menino que teve um pai imprevisível com a sua própria ira, geralmente ausente na educação e disciplina, sempre crítico, percebe que seu relacionamento com ele nunca teve uma interação equilibrada sobre instruções entre o certo e o errado, explosões de ira por coisas insignificantes e mentiras sempre fizeram parte deste relacionamento. Como consequência este rapaz veio a ser um homem quieto, agressivo e indeciso com relação a muitas áreas importantes de sua vida. Os conflitos que teve com o pai não foram oportunidades de prepará-lo em suas amizades, em seu ministério, em sua carreira e casamento. O exemplo que ele aprendeu com seu pai não foi de um homem pacificador que procurava respeitar os outros, conviver em harmonia com os outros, e o mais importante, amar os outros, mas, de exigir respeito por meio de uma agressividade odiosa.

Estas observações são importantes no processo de aconselhamento, mas é preciso saber que os sofrimentos de infância ou do passado podem ser perturbadores, mas a tendência de cair em tentações não surge de causas externas, mas de dentro de nós. Os sofrimentos, o diabo ou Deus não produzem nossos pecados. Somos atraídos pela nossa própria cobiça (Tg 1:2,14). Nosso coração não é passivo, o modo como eu ajo não foi determinada por uma causa externa. O passado oferece um contexto onde o coração ativo e obstinado se revela e se expressa. Quando nos identificamos e nos responsabilizamos por nossa incredulidade, amargura, maledicência, autopiedade e mentira, passamos a reconhecer que o nosso maior problema nunca foi nosso opressor, mas nosso próprio coração orgulhoso.

Nossa perspectiva não é de preparar nossos filhos para um mundo cruel sendo duros e cruéis com eles, não, a perspectiva de um cristão não é a agenda do mundo e seu mercado, e sim fazer a vontade do Pai por meio da revelação das Escrituras, ou seja, sendo pais amorosos que ouvem seus filhos, os tratam com respeito e amor e até pedem perdão quando erram com eles. Como resposta os filhos vão desejar reconciliar com seus pais pedindo perdão quando errarem e oferecendo perdão quando forem ofendidos.

Nós, pessoas convertidas a Cristo pela fé, somos descendentes de Abraão e herdeiros da mesma promessa (Gl 3:29). Quando Abraão foi chamado por Deus para deixar sua terra idólatra ele recebeu promessas maravilhosas, promessas essas que se estendem até hoje para nós cristãos. Deus declarou que todas as nações deveriam se abençoadas por meio dele. O verbo “abençoar” implica tanto uma ação reflexiva quanto passiva do verbo (Gn 12:1-3; 22:18; 28:14). Israel deveria ser um canal de bênção para as outras nações e elas deveriam considerar Israel como modelo para que fossem abençoados. Assim como uma candeia deve ser colocada em lugar alto para que sua luz brilhe, o povo de Deus estava no monte Sião para brilhar sobre as nações e abençoá-las. Aqueles que abençoassem Abraão seriam abençoados e aqueles que não o reconhecesse como um servo modelo, escolhido por Deus e viessem amaldiçoa-lo esses também seriam amaldiçoadas. O castigo que muitas nações sofreram foi por causa de sua rejeição a Deus. O Senhor havia garantido a Abraão que a maldição sobreviria àqueles que ridicularizassem, rejeitassem e se opusessem à sua descendência. Israel não deveria seguir os costumes das nações ao seu redor, pois ela era uma nação santa, separada. O problema é que Israel se misturou com outras nações, realizando casamentos e vivendo em paz com elas. Deixaram de ser modelo, e seguiram seus deuses pagãos. Deus usou as nações vizinhas para disciplinar Israel.

Assim tem acontecido em nossos dias, a igreja no Brasil pode se unir contra o “assunto do momento” que tem sido a homossexualidade e ideologia de gênero nas escolas, mas, esta mesma igreja, tem fechado os olhos para outros pecados. Quando Abraão mentiu dizendo que Sara era sua irmã e não sua esposa, muitas pessoas sofreram por causa do seu pecado (Gn 12:13,17; 20:1-18). Quando os pais cristãos mentem para seus filhos, ou quando o marido mente e comete adultério contra sua esposa e vice-versa, quando os cristãos usam palavras para destruir o próximo por inveja tentando transferir sua culpa, furtam o direito do próximo, cometem assassinatos em série por causa do seu ódio contra o próximo, amam o dinheiro e servem falsos deuses, eles estão se esquecendo das promessas feitas a Abraão de serem o modelo exemplar e de bênção para todas as famílias da terra, e, além de se tornarem responsáveis por muito dos sofrimentos existentes nos lugares para onde foram levados, também serão disciplinados pelos próprios inimigos.

Jesus diz: “Vinde...vinde...vinde” (Is 55:1). Ele convida você a se aproximar. Ele convida você a conhece-lo como o Maravilhoso que Ele é. Se esse convite não mexer com você, lembre-se que ele não diz “Vinde” apenas uma vez; ele o repete para você. Ele não poderia ter demonstrado o seu convite de maneira mais amável. Quando o temor do Senhor amadurece em você, Cristo torna-se irresistível (Ed Welch).

Seu filho tem dificuldades em prestar atenção?

Prestar atenção é uma habilidade difícil para todas as crianças. Dar nossa atenção corretamente é uma luta normal. Embora seja uma luta co...