quinta-feira, 27 de julho de 2017

Liderança amorosa ou egoísta?


Há poucos dias eu escrevi sobre o papel da mulher como auxiliadora de seu marido, (clique aqui para ler o artigo) e hoje quero falar sobre a liderança amorosa que o marido deve exercer em seu lar. Em Efésios 5:25-33 vemos que a moeda tem dois lados. A mulher deve se submeter ao marido como a igreja se submete a Cristo e o marido deve ser o exemplo de liderança e autoridade no lar assim como Cristo exerce e tem sobre a igreja. 

LIDERANDO EM GRAÇA E SUBMETENDO EM FÉ – Efésios 5:21-32

“...sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5:21).

Devemos submissão uns aos outros, no contexto amplo da igreja e no casamento. Isso significa que o marido deve submeter sua liderança à esposa e esta, por sua vez, deve receber sua liderança com submissão. A submissão da mulher não deve ser entendida com uma de escravidão ao marido, pois, como Paulo diz em Gálatas 5:1 e Pedro diz e 1 Pedro 2:16, nós fomos chamados por Cristo para a liberdade e não para um novo jugo de escravidão, caso contrário seria melhor ficar solteiro.

Liderar não é o mesmo que governar. O marido não governa a esposa, pois o termo governar provém da maldição do pecado, e é um pecado: “O teu desejo será para [contra] teu marido, e ele te governará” (Gn 3:16b). A esposa não é escrava do desejo de seu marido, mas seu desejo está em Deus (Sl 37:4-5). O marido deve liderar em favor da esposa. Amar é dar. Amor é coisa que recebemos somente de Deus a fim de conceber ao próximo. O marido também é “esposa de Cristo”, submisso a missão proposta por Deus na sua vida em geral, em particular e no casamento (GOMES, 2014, p.34,47-48)

A mulher é a glória do homem! (1Co 11:7). Assim como Deus se movimenta em graça em direção ao homem e este se movimenta em fé para recepção da graça, o homem lidera em graça e a mulher se submete em fé.

O marido propicia à mulher o entendimento e a prática da liderança de Deus (graça), e a mulher propicia ao marido a prática e o entendimento da submissão devida a Deus (fé).


O EXEMPLO DE LIDERANÇA AMOROSA DE CRISTO

Comparado ao que Jesus Cristo exigiu do marido, vemos que o papel da mulher é bem suave.

O que quero dizer com isso? A esposa deve seguir o exemplo da igreja em seu relacionamento com Cristo, e esse relacionamento deveria ser perfeito, mas não é, e está longe de ser, porém, a liderança de Jesus Cristo, ao contrário da obediência defeituosa de sua igreja, é perfeita, e o papel que o marido deve exemplificar e exercer é uma tarefa muito difícil, grande demais para seres humanos pecaminosos e fracos. Somente através do Espírito de Deus operando na vida do marido é que ele pode começar a se aproximar da liderança amorosa que o Senhor Jesus exerce sobre sua igreja. Isto é uma ordem, não é uma opção.

Quando nós maridos falhamos, não falhamos apenas em relação a nossa esposa, mas falhamos também em representar o amor de Jesus pela sua igreja. Quando deixamos de refletir Cristo em nosso casamento, prejudicamos o nome dele. Nós maridos fomos chamados para revelar Jesus Cristo mediante a liderança que exercemos em nosso lar. Quando fracassamos, representamos de maneira deplorável, uma imagem distorcida de Cristo para as outras pessoas.

A autoridade de Cristo no lar, está centralizada no marido. Não está centralizada na mulher ou nos filhos. Deus depositou sua autoridade para a família no marido (ADAMS, 2011, p.131).

Assim como Cristo é a cabeça da igreja, o marido é a cabeça do lar. Isto significa que ele é o líder. O marido é responsável por tudo o que acontece no lar. Se algo está acontecendo sem que ele saiba, é porque tem alguma coisa errada.

Ser líder do lar é ser um administrador. Um administrador focaliza sua visão em tudo o que acontece em sua casa, mas não faz tudo sozinho. Ele sabe extrair o potencial e as habilidades de todos os membros da família. Ele deve cuidar para que todos os membros da família recebam o melhor tratamento.

Há duas áreas que o marido deve cumprir com sua função administrativa do lar:

  • ·         Cuidar do bem-estar físico, alimentação, roupa, moradia e etc.
  • ·         Deve ser zeloso com o culto familiar, o estudo das Escrituras em família, oração doméstica, frequência da família à igreja, o testemunho da família em sua comunidade, a relação direta que a família deve ter com Deus para cumprir o serviço ao qual ele os chamou (ADAMS, 2011, p.136-137).

O segundo ponto (o mais importante) é o que os maridos mais falham. É nesse ponto que lamentavelmente eles têm fracassado, e o pior, tem passado essa responsabilidade para as mulheres. Os filhos têm aprendido que a igreja é para mulheres e que os homens não precisam de igreja. Para piorar os pintores da era medieval e contemporânea sempre retrataram Cristo como um indivíduo fraco e quase feminino. Esse cristo dos artistas não é o Cristo que suportou a morte de cruz e que expulsou do templo os cambistas que estavam profanando a adoração a Deus. Ele cresceu trabalhando em uma carpintaria, era um homem forte, másculo.

Essa liderança não consiste só em autoridade, mas também em uma liderança amorosa, influenciada pelo amor de Jesus, para que o marido se torne capaz de amar sua esposa como Cristo amou a igreja, ou seja, a ponto de morrer por ela.


AMOR NÃO É UM SENTIMENTO, MAS UMA DECISÃO DE ENTREGA

O amor não é primeiramente um sentimento, e sim uma entrega de alguém a outra pessoa.

Primeiramente é preciso compreender o que a palavra “sentimento” significa em nossa sociedade e o que a Bíblia diz a respeito dos sentimentos. A expressão “eu sinto” tem se tornado uma autoridade máxima para muitas pessoas quando apelam exclusivamente para seus sentimentos na tomada de decisão. Uma pessoa pode alegar que não sente mais amor pelo seu marido, e concluir que deve se divorciar. Outra pessoa pode dizer que não sente vontade de ler a Bíblia, e por isso pensar que não precisa mais ler. Muitas pessoas estão seguindo seus sentimentos para fazerem escolhas, conhecerem a verdade, provar coisas, querer coisas, e realizar-se nelas.

“Ser dirigido por sentimentos é o problema motivacional das pessoas” (Jay Adams), pois os pecadores são dirigidos por mentiras e cobiças. Frases iniciadas com a expressão “eu sinto”, são vagas ou autoenganadoras (David Powlison).


As sensações percebidas podem ou não, ser declaradas como reais. As pessoas podem experimentar eventos externos, internos e interpessoais. Uma pessoa pode sentir dor ao cortar seu dedo, pode sentir-se tensa e com dores abdominais por ter um problema emocional, pode sentir-se como se tivesse sido apunhalada ao ouvir palavras duras etc. O problema é que quando uma pessoa diz que se sente ferida por ter sido maltratada por alguém (cônjuge), sua interpretação sobre sua dor pode não ser real devido à complexidade da expressão “eu sinto”. Sua dor é justificada por que alguém (cônjuge) a maltratou ou por que alguém não realizou sua expectativas?

O sentimento também é demonstrado através das emoções: raiva, ansiedade, medo, culpa, depressão, excitação, gratidão, alegria. As emoções são como um detector de fumaça, ou seja, não são o problema primordial, mas alertas relativos ao problema primordial. As emoções são presentes de Deus para atuarem como indicadores externos daquilo que está acontecendo no coração da pessoa, que está intrinsicamente ligado ao problema que ela está enfrentando.

Os sentimentos mostram mais sobre quem está falando, e menos sobre o que realmente é verdade. Os sentimentos mais escondem os verdadeiros pensamentos, crenças, opiniões e atitudes do que revelam. Em vez de perguntar o que a pessoa está sentindo é preciso fazer perguntas como: O que aconteceu realmente? O que você pensa e crê sobre isso? Como você julga o comportamento daquela pessoa nessa situação? Isso é verdadeiro e justo, ou falso e pecaminoso?

Uma pessoa que é orientada pelos sentimentos é alguém que só faz o que sente vontade de fazer, e não faz o que não sente vontade de fazer, mas uma pessoa orientada pela obediência é alguém que faz o que é exigido biblicamente, quer sinta vontade ou não.


Marido, se não há amor em seu lar, a culpa é sua. Se há pouco ou nenhum amor em seu lar, a culpa é sua. Um homem jamais pode dizer: “Eu não amo mais minha esposa”. Lembre-se, Jesus não teve escolha em amar sua igreja. A igreja nunca foi amorosa e digna de ser amada, pelo contrário, Jesus morreu por uma igreja pecadora, rebelde, inimiga de Deus. Ele decidiu amar, sem haver qualquer coisa que lhe enchesse os olhos.

Se o amor esfriou em nosso lar, é nosso dever como maridos tomar providências para reiniciar esse amor.


LIDERANÇA AMOROSA OU EGOÍSTA?

Muitas pessoas confundem amor com atração. A Bíblia fala que o amor não é medido pelo o que eu recebo, mas o quanto estou disposto a dar (Gn 22; Jo 8:56). O amor é sacrificial na visão bíblica (Ef 5:25-29).

O egocentrismo do pecado pode produzir uma atração por outra pessoa, mas essa atração não deve ser confundida com amor, porque não consegue fazer o que só o amor pode fazer quando as razões dessa atração desaparecem (TRIPP, 2011, p. 40).

A atração é o oposto do amor exatamente em sua essência. A atração é egoísta em sua essência, enquanto o amor é medido por aquilo que estou disposto a dar. A atração é aquilo que sonhamos para nós mesmos, e somos atraídos por pessoas que satisfazem nossos desejos, pois estamos preocupados mais com o que diz respeito a nós mesmos.  Olhamos para o cônjuge como um meio de conseguir o que queremos. Somos atraídos por pessoas que satisfazem nosso ego. Isso se chama atração egoísta, ou seja, na superfície pode parecer maravilhoso, mas um casal pode estar atraído um pelo outro por motivos egoístas, e quando os problemas aparecem o sonho egoísta morre, e aí entra a oportunidade de um verdadeiro amor começar a crescer.

Vivemos a serviço de dois reinos:

  • ·         Reino do ego: quando vivemos a serviço dos propósitos pequenos e egoístas
  • ·      Reino de Deus: quando vivemos a serviço dos enormes propósitos que regem tudo, da origem ao destino (TRIPP, 2011, p.39).

No reino do ego, procuramos a companhia de pessoas que sirvam aos propósitos do nosso reino, e não avaliamos essas pessoas partindo da perspectiva das leis do reino de Deus, mas da perspectiva das leis do nosso próprio reino.

O marido egoísta é aquele que usa a esposa e os filhos para servirem seus desejos. Ele se ama tanto que não se importa se sua esposa e seus filhos violem as leis do reino de Deus, mas fica irado quando violam as leis do reino do seu ego.

O amor não é um sentimento que vem e some no dia seguinte. O amor deve crescer. Tem de ser regado, tratado e cuidado. Deve ser cultivado. Não há espaço para preguiça, tem de ser limpo das ervas daninhas. O amor tem seus problemas, mas o verdadeiro amor pode crescer e tornar-se grande e forte quando cultivado como Deus ordena (ADAMS; 2011, p.150).

Marido, de quem é o reino que está moldando seu casamento? O que realmente o deixa feliz? Será possível que aquilo que você quer de verdade é que a outra pessoa o ame da mesma maneira que você se ama? (TRIPP; 2011, p.44).

“Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”

“Que venha o teu reino, que seja feita a tua vontade [aqui e agora neste casamento] assim como é feita nos céus” (Mt 6:10)


REFERENCIAL TEÓRICO

ADAMS, Jay. A Vida Cristã no lar. 2. ed. São José do Campos: Fiel, 2011.

TRIPP, Paul D. O que você esperava? Expectativas fictícias do casamento. São Paulo, Cultura Cristã, 2011.

GOMES, Wadislau. Um Marido olhando a sua Esposa. Brasília: Monergismo, 2014.



Os heróis se vão e nós também - Juízes 16

Alguém disse que um dia especialmente importante para um filho é aquele no qual ele se dá conta de que seus pais pecam. Da mesma forma com...