terça-feira, 20 de outubro de 2015

Sendo crianças sem ser infantil



O que é ser criança? Muitas pessoas diriam que esta é a melhor fase da vida, porque neste período elas não precisavam se preocupar com os “problemas da vida”. Outras pessoas diriam que esse é o período em que elas não gostariam de reviver, devido aos traumas e problemas vivenciados na infância. A palavra criança está sempre relacionada com alegria.
Mas, o que significa ser criança e ao mesmo tempo não ser infantil? As palavras “criança” e “infantil” usadas juntas, parecem soar bem. Mas, há uma grande diferença entre ser semelhante a uma criança e ser infantil.
Quero apresentar três tipos de comportamentos infantilizados:
1.       Crianças que estão crescendo como eternos bebês,
2.       Crianças que estão crescendo e se comportando como adultos, e
3.       Adultos que estão se comportando como crianças.
1) Muitas crianças são educadas e criadas como se fossem eternos bebês. Assim que os anos vão se passando as mudanças físicas vão aparecendo, já a maturidade vem se desenvolvendo a passos de tartaruga. Crianças mimadas querem ser vistas e ouvidas a todo custo e se metem em situações com as quais não conseguem lidar. Neste caso haverá uma dependência emocional quando se tornarem adultas.
2) Muitos pais criam seus filhos como pequenos adultos. Muitas vezes elas crescem em um ambiente com poucas crianças e com muitos adultos e acabam se envolvendo com assuntos e problemas que não deveriam se envolver desde cedo. Muitas vezes os pais acabam dividindo seus problemas e suas dores com seus filhos tentando buscar uma ajuda por não saberem lidar com eles. Alguns exemplos desses problemas seriam a perda de um ente da família e um divórcio. Neste caso a infância destas crianças estará sendo roubada.
3) Os adultos que se comportam como crianças infantis são piores que as crianças que se comportam como adultos. São pessoas que se tornam soberbas, orgulhosas, egocêntricas, invejosas e egoístas. Esses comportamentos irão contribuir para que elas venham agir com infantilidade.
Vimos acima três tipos de comportamentos infantilizados. Mas agora, quero apresentar através da revelação especial de Deus, sua Palavra, o comportamento que Cristo queria e quer ver na vida de seus discípulos quando disse:
Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira alguma entrará nele” (Lc 18:17). “Quem receber esta criança em meu nome a mim me recebe; e quem a receber a mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande” (Lc 9:48).
Os discípulos de Jesus pensavam que Cristo não tinha tempo ou não estava interessado nas crianças. Que grande engano! Outrora estavam discutindo entre eles quem seria o maior, quem teria o cargo mais importante. Porém, eles aprenderam com o Mestre que:
A verdadeira grandeza do discípulo não está no cargo que ele exerce; a verdadeira grandeza do discípulo não está na visibilidade que ele tem; a verdadeira grandeza do discípulo está na sua humildade” (Leandro Lima).
Esta é a verdadeira virtude que Cristo ensinou aos seus discípulos sobre ser uma criança.
Hoje, conheceremos a história de dois grandes reis que foram poderosos em seus reinos, mas um deles por ter exaltado seu coração e agido com uma atitude infantil terminou seus dias em vergonha e desgraça. O outro por ter se humilhado perante Deus como uma criança (desmamada) terminou seus dias na presença de Deus.

UM REI PODEROSO, MAS DERROTADO PELO PRÓPRIO ORGULHO – 2 Cr 26:1-22; 2Rs 15:1-7

No Antigo Testamento vemos histórias de grandes reis que reinaram com justiça e de reis que fizeram o que era mal perante os olhos do Senhor. Quero destacar a história do rei Uzias. Ele fez o que era reto perante o Senhor, ele edificou torres de vigias nos muros e nos campos, ergueu um exército poderoso com grandes máquinas de guerra ao lado das torres, construiu cidades, também foi um excelente agricultor e pecuarista, mas foi derrotado pelo próprio orgulho e morreu em vergonha e desgraça por ter agido com uma atitude infantil.
Agostinho disse que: “o orgulho é o começo de todo o pecado”. Esta é a essência do pecado original. A desobediência de Adão e Eva foi o resultado de sua declaração de autonomia e independência de Deus.
O que foi que o rei Uzias fez de tão grave assim para ter morrido em vergonha de desgraça? Ele entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar do incenso. Os sacerdotes tentaram convencê-lo de não fazer isso, pois esse era o ofício de um sacerdote e não de um rei. O altar do incenso ficava diante do véu na entrada dos Santo dos Santos, e os sacerdotes queimavam incenso todos os dias de manhã e a tarde. O incenso é a imagem da oração (Sl 141:2; Ap 5:8).
No sistema do Antigo Testamento, o Senhor fazia separação entre reis e sacerdotes. Um sacerdote poderia se tornar profeta como foi o caso do profeta Jeremias, filho de Hilquias o sacerdote, mas nenhum profeta ou rei poderia de tornar-se um sacerdote. Somente em Cristo Jesus nós encontramos estes três ofícios em uma única pessoa. Exemplo: Alguém acharia estranho se nossa presidente resolvesse ministrar hoje a palavra ou administrar os sacramentos da ceia e do batismo?
A Lei exigia que invasores do templo fossem executados (Nm 16:40; 18:7), mas em sua graça, Deus preservou a vida do rei Uzias e o feriu com lepra, uma “morte em vida”. Uzias conhecia a lei de Israel, ele sabia que esse trabalho só poderia ser exercido por um sacerdote. O que o Senhor fez por ele deveria tê-lo tornado mais humilde não orgulhoso. Foi uma atitude infantil. Azarias e mais oitenta sacerdotes advertiram o rei para que não fizesse tal coisa, mas ele irou-se muito com os sacerdotes. O termo hebraico traduzido por “indignar-se”, no verso 19, é associado a idéia da fúria de uma tempestade.
O nome Uzias significa “Jeová é força”. Antes de se tornar rei seu nome era Azarias que significa “Jeová tem ajudado”. Uzias começou a reinar com 16 anos. Ele reinou cerca de 52 anos em Judá. Mas, possivelmente nos últimos dez anos do seu reinado seu filho é quem cuidou dos negócios da casa do rei, pois uma pessoa com lepra tinha que morar em uma casa separada das outras, excluída da sociedade. E foi assim até sua morte. Foi sepultado no cemitério real, mas não no túmulo dos reis.
Ele morreu no início do ministério do Profeta Isaías. Quem não se lembra da passagem em que Isaías viu o Senhor assentado em seu trono dentro do templo? Esta visão foi no mesmo ano em que o rei Uzias morreu (Is 6). Este deve ser um dos motivos que levou Isaías dizer: “- Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros e meus olhos viram o Senhor dos Exércitos!” (Is 6:5).
Um excelente começo, mas um fim trágico. Um excelente soldado, um excelente construtor, um excelente lavrador que foi vencido pelo próprio orgulho. Jamais devemos interferir naquilo que Deus não nos incumbiu de fazer. “Melhor é o fim das coisas do que o seu princípio; melhor é o paciente do que o arrogante” (Ec 7:8).

UM REI PODEROSO, MAS HUMILDE COMO UMA CRIANÇA (DESMAMADA) – SL 131

Se havia alguém em Israel com motivos de sobra para se orgulhar esse homem era Davi. Davi iniciou sua vida como simples pastor de ovelhas e se tornou o maior rei de Israel. Foi um general de guerra talentoso, expandiu as fronteiras de sua terra, ajuntou a riqueza que Salomão seu filho usou para construir o templo e escreveu quase metade dos salmos. Davi, assim como nós também tinha pecados, mas sempre se arrependia e buscava o perdão de Deus. Davi andou com o Senhor mantendo sempre um espírito humilde.
1) No primeiro versículo deste salmo ele expressa uma tríplice negação de orgulho: no coração, na sua percepção da realidade através dos seus olhos e nas suas ações referente ao seu contentamento em não procurar coisa grandes e maravilhosas de mais para ele.
2) Pelo contrário, ele diz que sua alma está tranquila e sossegada como de uma criança desmamada. O retrato de uma criança desmamada significa um sinal de humildade e maturidade. O termo hebraico para desmamar significa “completar, amadurecer, tratar com bondade”. Nós vimos na introdução o primeiro tipo de criança infantilizada. Ela se desenvolve fisicamente, mas sua maturidade não acompanha seu desenvolvimento físico por não desmamar nunca, se tornando um eterno bebê.
Toda criança depois da “crise” do nascimento, mais cedo ou mais tarde deve ser desmamada e aprender a primeira lição da escola da vida: “o processo de crescimento envolve perdas dolorosas que podem levar a ganhos maravilhosos” (Wiersbe).
O processo de desenvolvimento do amadurecimento de uma criança implica desmamar. Ela será capaz de ir a escola, escolher um profissão, se casar e constituir um novo lar.
3) Quando nos debatemos para manter um passado confortável, abrimos mão de um futuro desafiador. O objetivo de Deus é que alcancemos maturidade emocional e espiritual.
As crianças não entendem que a decisão dos pais é para o bem deles, o desmame as liberta para ir de encontro ao futuro e aproveitá-lo ao máximo.
Conclusão: Assim é em nossas vidas, queremos que as coisas continuem como estão, e assim seguimos um caminho de imaturidade e infelicidade. Mas, precisamos compreender que o processo de crescer envolve perdas dolorosas e essas perdas que muitas vezes lutamos em aceitar podem ser o caminho que quer ensinar a viver o futuro.
Existe uma passagem na Bíblia que diz: “há últimos que virão a ser primeiros, e primeiros que serão últimos” (Lc 13:30).
No livro do Profeta Ezequiel no capítulo 33, Deus fala sobre o perverso que passa a vida pecando e se arrepende e do justo que passa a vida praticando o bem e no final pratica a iniquidade. Imagine neste caso dois tipos de crianças:
1) Uma criança pode ter nascido num berço de fé, num lar evangélico, ter andando com integridade e justiça sua vida toda, mas depois de ter crescido ela passa a confiar em sua própria justiça e começa a praticar iniquidades, o Senhor não se lembrará de todas as suas justiças e sim da sua iniquidade, e se ela não se arrepender ela morrerá.
2) Do mesmo modo aquela criança que foi criada e educada num lar totalmente em rebelião a Deus, crescendo praticando todo tipo de pecado, vier a se arrepender dos seus pecados e começar a andar na Palavra de Deus, devolvendo tudo aquilo que roubou ao furtado, Deus não se lembrará dos seus pecados, pois se arrependeu, ela viverá.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A Soberania das esferas: Estado, Família e Igreja - Parte II



No início da história da igreja, Santo Agostinho fez uma observação interessante, ele disse que o governo é um mal necessário. Na visão de Agostinho o sistema de governo em si mesmo é mal, mas um mal necessário. Ele é necessário porque o mal em nosso mundo precisa ser refreado, porém, este sistema não foi necessário antes da queda do homem (R.C. Sproul - What Is the Relationship between Church and State?).
Como vimos no estudo anterior o Estado, a igreja e a Família são ordenados por Deus (Rm 13: 1-7; Gn 1:28; Cl 1:18). A primeira função do Estado é proteger os cidadãos do mal. Os magistrados são “servos de Deus”. Eles devem reconhecer a Deus como o Supremo Governador, de quem eles derivam seu poder. Eles devem servir a Deus governando o povo segundo as ordenanças divinas (Abraham Kuyper). O Estado é responsável e prestará contas a Deus. Deus tem entronizado Cristo como Rei dos Reis e Senhor dos Senhores (Ap 19:16). Cristo é o primeiro ministro do universo (Cl 1:15-19), todos os reis deste mundo têm um rei que governa sobre eles, e todos os reis e senhores desta terra tem um Senhor superior a quem eles prestarão contas. Este reino que é invisível agora aos nossos olhos, não é reconhecido pela maioria das pessoas deste mundo, Cristo está reinando neste exato momento, ele está assentado a direita de Deus e voltará visivelmente para reinar eternamente.
Nós Cristãos fomos chamados para respeitar, honrar e orar pelas autoridades e não para colocá-las acima de Deus. Deus como autoridade suprema delega todas as funções das autoridades para seu Filho, Jesus Cristo. Então, abaixo de Cristo nós temos reis, juízes, pais, professores e etc. Quando desobedecemos uma autoridade que está abaixo de Deus, nós desobedecemos a Ele, pois elas foram colocadas por Deus.
Vemos na história de Israel uma nação teocrática. Nela existia uma distinção entre as funções do sacerdote e as funções do rei. No antigo testamento vemos histórias de grandes reis que reinaram com justiça e de reis que fizeram o que era mal perante os olhos do Senhor. Quero destacar a história de um grande rei de Judá, o rei Uzias. Ele fez o que era reto perante o Senhor, ele edificou torres, ergueu um exército poderoso, mas, morreu em vergonha e desgraça. Ele ficou com lepra após ter entrado no templo para queimar incenso no altar, tarefa esta, que só um sacerdote poderia exercer. Ele foi removido por Deus do seu trono e perdeu sua vida de forma trágica e vergonhosa por ter exaltado em seu coração uma autoridade que ele não tinha. Assim vemos a confusão que existe entre os deveres do estado e da igreja. Jamais um rei ou presidente poderia olhar para si mesmo com autoridade de controlar assuntos que são específicos da igreja.
O governo é um ministro de Deus, como um instrumento em sua mão para promover justiça e punir o mal (Rm 13:1-6). A principal característica do governo é o direito sobre a vida e a morte. Segundo o testemunho do Apóstolo Paulo, em Romanos 13, ele é a espada da justiça para distribuir punição física ao criminoso. É a espada da guerra para defender a honra, os direitos e os interesses do Estado contra seus inimigos. O direito de tirar a vida pertence a Deus, pois somente ele pode dar a vida. A pena de morte é legítima sob a autoridade de Deus, e somente alguém investido de tal autoridade é que pode executá-la. O sexto mandamento diz: “Não Matarás” (Êx 20:13). Porém, em relação aos homicidas, o Senhor coloca a espada nas mãos dos magistrados ou ministros para que usem contra eles (João Calvino).
Este poder da espada é dado somente para os magistrados civis, a igreja não tem essa autoridade. O emblema da igreja é a Cruz, ao contrário do Islamismo, que tanto a religião quanto o estado têm o poder da espada. O Estado tem o dever de proteger a igreja. Os magistrados civis não podem tomar para si a administração da Palavra e dos Sacramentos.  (Confissão de Fé de Westminster: 23:1,2,3 e 4).
Jesus deu as chaves do reino para a igreja, não para o estado (Mt 16:19). No próximo estudo focaremos nosso estudo sobre os deveres da igreja e da família. Até lá!

Os heróis se vão e nós também - Juízes 16

Alguém disse que um dia especialmente importante para um filho é aquele no qual ele se dá conta de que seus pais pecam. Da mesma forma com...